Crise Logística nos Portos Brasileiros Gera Prejuízo Milionário para Exportadores de Café

A ineficiência logística nos portos brasileiros em 2024 trouxe prejuízos significativos para os exportadores de café. Um total de 1,826 milhão de sacas de café – o equivalente a 5.534 contêineres – não conseguiu embarcar, resultando em um prejuízo acumulado de R$ 51,5 milhões para o setor e em uma perda de US$ 555,62 milhões (R$ 3,38 bilhões) em receita cambial para o Brasil.

Os dados foram levantados pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) e apontam que os principais motivos para o não embarque foram os constantes atrasos e alterações de escala dos navios, além da rolagem de cargas e a falta de infraestrutura portuária adequada.

Impacto Financeiro e Estrutural

Somente em dezembro de 2024, os exportadores de café arcaram com um prejuízo portuário de R$ 9,2 milhões, devido a custos extras com armazenagem adicional, detentions, pré-stacking e antecipação de gates. Desde junho, quando o Cecafé iniciou o levantamento, a soma dos prejuízos alcançou R$ 51,54 milhões.

Além dos prejuízos diretos aos exportadores, os produtores brasileiros de café, em sua maioria da agricultura familiar, também foram impactados. Como o Brasil é o país que mais repassa o preço FOB da exportação aos cafeicultores, os gargalos logísticos reduziram significativamente a entrada de capital no setor.

Outro fator preocupante é o aumento da demanda por embarques de cargas conteinerizadas no Brasil, o que pressiona ainda mais a infraestrutura dos portos. O cenário evidencia a necessidade urgente de investimentos para ampliação da capacidade portuária, melhorias no transporte rodoviário, ferroviário e hidroviário, além do aprofundamento do calado para acomodar navios de maior porte.

Reuniões e Propostas para Solução

Buscando minimizar os prejuízos e encontrar soluções para a crise logística, o Cecafé tem conduzido reuniões com autoridades portuárias e órgãos governamentais. Na semana passada, o Comitê Logístico do Cecafé se reuniu com o diretor de Operações da Autoridade Portuária de Santos (APS), Beto Mendes, para tratar dos desafios logísticos nos embarques de café.

Segundo o Cecafé, a APS tem monitorado de perto os atrasos nos embarques e planeja investimentos na terceira via da Rodovia Imigrantes, no aprofundamento do calado e no leilão do TECON10, que está previsto para o segundo semestre de 2025. Além disso, há esforços para que o Porto de Itajaí contribua para aliviar a sobrecarga do Porto de Santos.

Atrasos Críticos nos Principais Portos Brasileiros

Os dados do Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital, reforçam a gravidade do problema. Em dezembro de 2024, 71% dos navios porta-contêineres (206 de um total de 290) enfrentaram atrasos ou alteração de escalas.

O Porto de Santos, responsável por 68% das exportações de café em 2024, registrou um índice alarmante de 84% de atrasos ou alterações de escala dos navios em dezembro. O maior tempo de espera registrado foi de 56 dias, enquanto 40 navios sequer tiveram abertura de gate para embarque.

No Rio de Janeiro, segundo maior porto exportador de café do Brasil, com 27,9% de participação, os atrasos também foram expressivos: 56% das embarcações sofreram alterações de escala, sendo que o maior intervalo registrado foi de 35 dias entre o primeiro e o último deadline.

Os números evidenciam a necessidade de uma resposta ágil por parte do governo e do setor privado para evitar que o problema se agrave nos próximos anos.